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O perigo do “silêncio” da população brasileira

Por Clécio Gonçalves Dias
Poeta, corretor de imóveis e advogado.
O povo brasileiro, sobretudo os eleitores “ativos” (não me refiro aos cidadãos que tem o direito de votar e não vão às urnas), mas faço menção ao povo que vai às urnas, a cada dois anos, e dá sustentação ao regime político-brasileiro, tem-se manifestado de forma intrigante, sobretudo no desencadeamento da caça aos “grandes ladrões” promovida nos últimos anos.

Na verdade, a “Operação Lava Jato” não nasceu para a moralização do país, mas para a manutenção da crença do povo (que vão às urnas) no sistema representativo brasileiro. Em outras palavras, a operação mencionada (notícia diária em todos os meios de comunicação) não visa a modificar a estrutura do poder nem as “artimanhas” da corrupção e dos grandes esquemas.

O “teatro” da Operação não é uma saída para a mudança de posicionamento dos políticos, até porque a “peneira das denúncias” é estrategicamente selecionada. O maior sentido da operação não é a proteção daquilo que é do povo, mas daquilo que vem do povo: a crença no sistema atual.

Há longos anos, a impunidade era (defendo que é) a maior certeza da população quando a assunto eram os criminosos do colarinho branco. Até porque a própria população tem sua cumplicidade nisso. Os grandes “escandalizadores” foram eleitos novamente, mesmo após a chuva de escândalos! O ex-presidente Collor assim que recuperou os direitos políticos tornou-se Senador da República; O Coronel Ubiratan que determinou o massacre do Carandiru foi eleito deputado estadual com ampla margem de votos; o ex-presidente Lula também citado na “Operação Lava Jato” lidera a corrida presidencial para 2018.

Ou seja, o povo que vai às urnas não tem tanto interesse na retirada da política, como pensam os mais desatentos, das figuras corruptas ou cruéis. Existe certo cinismo do povo que não têm direitos e que dá todos os direitos às autoridades. Um cinismo perigoso revestido de um silêncio assustador que leva nossa democracia ao campo das incertezas.

Não se entende como um povo que tem tantos direitos no texto da Constituição Federal seja um povo tão inferiorizado pelas “ações” ou “omissões” dos governos, há tanto tempo! Talvez as próprias autoridades eleitas e reeleitas não compreendam o sentido que o povo dá à política, mas tais políticos edificam muito bem sua volta (e até o ingresso de seus filhos aos grandes cargos) e vem vencendo a suposta revolta do povo que continua elegendo os mesmos representantes.

Um povo extremamente contraditório. Pede a prisão dos “envolvidos” nos esquemas de corrupção, mas continua votando nos mesmos “envolvidos”! Não acredita na Justiça; cogita a inclusão da pena de morte; pede a punição dos menores de 18 anos; quer a investigação dos corruptos, mas não de todos, pois alguns devem permanecer para receber o voto!

Um povo desacreditado. Vive dizendo que o melhor político é aquele que rouba, mas faz! Mas é um povo “silencioso”. Vota silenciosamente; assiste calado aos noticiários; não vai às ruas; não apóia a Justiça (na verdade, vive reclamando da Justiça); disfarça que acredita que a Justiça está investigando e punindo os grandes “ladrões”. Porém, o que mais chama a atenção, é que esse mesmo povo tem certeza de que não vale à pena votar, mas insiste em votar! E, ao que se vê, devido ao partidarismo que corre nas veias, divide-se em várias vertentes, pede a prisão dos políticos adversários, mas jura pela inocência dos políticos do seu partido!

É como se o povo participasse acompanhando às investigações, mas não como eleitor ou cidadão e sim como torcedor! Então, eis o sentido maior da “Lava Jato”: atrair esse povo a acreditar no sistema, a participar, mesmo sabendo que o Brasil não vai mudar! É um belo fingimento: saber que os supostos corruptos estão sendo investigados e até punidos, mas isso não terá peso na hora do voto!

Se o povo soubesse votar não precisaria de “Operação Lava Jato”! Cada cidadão seria um promotor ou um juiz na hora do voto! Porém, temos sido cúmplices dos políticos corruptos quando bajulamos, quando idolatramos, quando nos colocamos como subservientes! Basta por a mão na consciência para perceber que sabemos desses esquemas de corrupção desde pequenos e não foi a “Operação Lava Jato” que detectou.

O sistema político brasileiro está abalado! Mesmo “cínico”, nosso povo não acredita mais! O povo sem crença tende a identificar em novas “figuras”, dessa vez, mais radicais, uma salvação para um país que não enxerga mais o progresso nem a honestidade dos representantes! Por isso, uma “figura” surge no meio político com alto conservadorismo e promessas de ações radicais: seu nome é “Jair Bolsonaro”!

Por mais “estranho” e “louco” que seja, no íntimo do povo, o que pode ser pior do que a descarada corrupção atual? Por isso, a “Lava Jato” é a única esperança para a manutenção do sistema atual, pois muita gente se beneficia dele!

Sendo assim, a “Lava Jato” busca recuperar a credibilidade do sistema, mas não o moralizando e sim fazendo crer que ele pode ser moralizado, mas não está conseguindo! Quando seus “investigados” ou “processados” lideram as pesquisas é muito difícil acreditar que a “Lava Jato” recupere a credibilidade do sistema quando ela mesma (“Lava Jato”) se rasteja para conquistar sua própria credibilidade!

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