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Brasil: à espera “inútil” por um herói

Por Clécio Dias*. 


Em pleno século XXI, a população brasileira ainda acredita no surgimento de heróis. Uma mistura muito engraçada dos heróis dos filmes americanos com os personagens dos filmes de comédia brasileiros.

A crise financeira desperta a imaginação da população e heróis antigos brilham com possíveis heróis atuais fazendo a população migrar de ideologia de uma maneira incrível. O torneiro mecânico que povoou o “imaginário” popular ainda é um “herói”, pelo menos de uma considerável parcela.

Agora o novo herói do povo poderá ser um juiz, já se ventila sua candidatura à Presidência da República! Já houve tempo em que os heróis eram os militares. Há até aqueles que defendem sua volta ao poder!

O perfil dos “heróis” foi mudando lentamente! Os heróis da ditadura militar andavam de cassetetes na cintura e pistolas nas mãos! Os “inimigos” do país eram aqueles que lutavam pela liberdade de expressão!

Os “heróis” escaparam e muitos foram promovidos... Os “desditosos” inimigos, também chamados na época de comunistas e revolucionários, estão enterrados não se sabe aonde, mas em túmulos sem lápides e sem lembranças nos cemitérios improvisados pelos líderes do nefasto regime militar que “simbolicamente” tinha se acabado em 1985!

O Brasil descobriu que nunca existiram heróis, mas apenas seres humanos que lutavam por ideologias! O segredo dos arquivos das forças armadas é mais importante do que as vidas torturadas, assassinadas e dos corpos ocultados... Essa história não é tão antiga assim! O ano de 1964 não está tão longe e aquele ano de 1985 não foi o ponto final das mazelas brasileiras!

Engana-se quem acha que a população brasileira se importava com os revolucionários! Em 1970 (no ápice da ditadura), a população festejava o Tri Campeonato Mundial, as novelas globais já tinham lançado seus atores heróis e o maior herói do Brasil chutava uma bola!

O brasileiro não tem heróis e quando acha que tem é porque está alimentando seus maiores carrascos! Agora, depois de tantos heróis imaginários e vilões reais, o povo começa a se embalar como as morenas do Carnaval e a entrar na dança das novas modinhas e dos possíveis novos heróis!

O herói caridoso que “botou” muita gente na faculdade e distribuiu as cestas básicas às famílias mais pobres tem seu trono de “bom herói” ameaçado! O povo agora busca o herói que pune, que sentencia, que decide, que condena os grandes “ladrões”! As mãos do torneiro mecânico (de pouco estudo) e sua “identidade” com a pobreza (solidariedade aos mais pobres) agora será substituída pelas mãos do letrado (de muito estudo) e a justiça e a intolerância com a corrupção poderão ser o ponto mais forte dos seus discursos!

Como sempre, seja na música, nas novelas, no futebol, nos esportes em geral, no Carnaval etc. cada herói teve sua participação, cada qual a seu tempo, com pompas, com fanatismo, com gritos alucinados... mas, quando a poeira baixa, a “velha” população brasileira, sobretudo a população mais jovem, percebe (embora logo esqueça) que não existem heróis, nem de cara limpa nem de cara pintada!

O povo sofrido, no frigir dos ovos, constata que heróis e vilões eram da mesma espécie e que o maior engano e a maior babaquice da população foi acreditar que tinha heróis e, se essa população algum dia já teve um herói ou alguns heróis, estes estão enterrados não se sabe a quantos palmos abaixo do chão e, se estiverem vivos, estão enterrados pelas armadilhas da mídia e dos grandes estrategistas.

Os verdadeiros heróis sempre foram esquecidos. Os verdadeiros heróis estiveram sempre tentando aclarar a mente do povo no sentido de convencê-lo de que nada mais pode ser tão humilhante como venerar e supervalorizar os “ídolos” (em todos os campos, mas principalmente na política).

Outros tantos heróis conseguem se virar um mês inteiro com um salário mínimo, fazendo verdadeira mágica para se manterem vivos e outros heróis sobrevivem sem qualquer oferta de emprego. Conheço heróis que sobrevivem no sertão nordestino sem água e apenas recebendo as ajudas do governo. Esses heróis nordestinos foram “agredidos” por muita gente nas eleições de 2014 quando lhes foi atribuída a vitória da chapa “Dilma/Temer”.

A “idolatria” e a visão ainda medieval presente na cultura do nosso país fazem com que os “heróis pobres” sejam considerados apenas objetos volúveis sem qualquer valor e que os heróis ricos sejam elevados à categoria de salvadores da pátria. Ao final, toda a comédia que se cria no cenário político do país transforma os perigosos políticos em heróis e, ao mesmo tempo, o povo brasileiro vira o “herói” sem graça e se torna o principal palhaço do espetáculo do circo verde e amarelo!

Porém, a crença nesses heróis inventados e a espera por eles é a manifestação da face mais triste da nossa população! A espera pelos “outros” (políticos) e pela atitude deles é a melhor forma de, quando a “casa cair”, dizer-se por aí: os culpados são os políticos! É a maneira, também, muito cínica, de esconder quem, a cada dois anos, elege os fantasiosos heróis e os mais reais e perigosos vilões (mas com o tempero medieval da idolatria, muito danosa nas religiões e muito mais nociva em qualquer sistema político)!


*Clécio Dias é Poeta, Corretor de Imóveis e Advogado.

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