Por Paiva Netto
O que vem
de Deus é Ciência. Há tempos, comentamos que todos os ramos do saber universal
compõem a Ciência Divina. Conforme estudaremos em outra oportunidade, Religião
é Ciência, Ciência é Religião. Ambas devem honrar a Ciência Moral, que tem
pelas criaturas o mais elevado respeito, não as considerando instrumento para
fanatização nem reles cobaias. O pensamento quando altamente sectário pode
sustentar rancores que ensombreçam os olhos da alma de geniais cerebrações.
Aliadas, muito além poderiam fazer pelos povos sequiosos de um mundo melhor. É
fundamental afastar o tabu de que a fé religiosa esteja restrita aos tolos e
radicais e a Ciência seja abrigo apenas dos que possuem intelecto aguçado,
conquanto, de preferência, distantes do sentimento que liga a Razão ao Espírito
imortal. Convém ressaltar que Racionalidade em demasia, sem o amparo do coração, promove, por exemplo, soluções econômicas
que a uns privilegiam e aos demais destroem.
Em Reflexões e Pensamentos — Dialética da Boa
Vontade (1987), sem pretender dar uma de conselheiro Acácio (risos), escrevi: Muita aberração
catalogada na História como de autoria do Criador do Universo nada mais é do
que projeções do deus antropomorfo, gerado pelo homem para satisfazer aos seus
proveitos. São, portanto, as próprias deficiências humanas alçadas à condição
de divindade.
A
existência terrena particulariza renovação constante. O desenrolar dos fatos
para alguns é um susto. Já aos modestos — perante a Espiritualidade Superior ou
a Solidariedade sem fronteiras —, eles se encaixarão de forma perfeita.
Verdade verdadeira
Meditando
a respeito do urgente papel da Ciência no deslindamento de nossa vida
incorpórea, faz-se necessário alcançar que, enquanto certos pesquisadores negam
uma realidade, alicerçados nos parâmetros que julgam inquestionáveis, seus
pontos de vista, talvez prematuros, podem tornar-se verdade irredutível aos que
têm a palavra deles como instância derradeira. Causam, com isso, os mais
terríveis prejuízos ao progresso, até que a Ciência mesma, apoiada em novos
fundamentos, venha desmenti-los. É evidente que não é ela que se desdiz, porém
alguns dos seus cultores, por mais bem avaliados que sejam pela opinião de seus
pares. Certa ocasião, durante palestra, ponderei que a Ciência é infalível, os
cientistas não.
Ele estava certo
Aponto,
como referência, o conceito revolucionário do sábio britânico sir Gilbert Thomas Walker (1868-1958), com
sua “Oscilação Sul” ou “Gangorra Intrigante”. A descoberta dele modificou a
compreensão acerca dos efeitos do El
Niño no planeta Terra. Apesar disso, foi, de imediato, rechaçada pelos
seus contemporâneos. Contudo, atualmente, segundo o dr. Matt Huddleston, do Centro Hadley, Departamento de Meteorologia do
Reino Unido, “o incrível sobre o trabalho
de Gilbert Walker é que ele foi uma das primeiras pessoas no campo da
meteorologia que pensaram grande, que ligou os padrões de tempo de continentes
diferentes. (...) As ideias grandiosas dele foram criticadas na época, porque
as pessoas não entendiam que o tempo e o clima de uma área podiam estar ligados
a outro ponto do globo. E, realmente, isso o prejudicou”.
Muitas
foram as ironias sofridas por Gilbert por parte de seus colegas. Mais tarde, no
entanto, confirmou-se que ele estava certo. De louco, Walker não tinha nada. Os
outros é que andavam distraídos.
Ora, quem
determina que a verdade é verdadeira? (risos).
Os pesquisadores, que amanhã retificarão os seus conceitos antes apreciados por
eles como cláusula pétrea, ou a modéstia exigida pela sabedoria? A erudição,
quando acompanhada de vasta experiência e postura humilde diante da verdade,
jamais se precipita. Não aceita radicalismos nem cogita que a Ciência tenha
atingido o curul de sua missão, incluindo o fato de que o ser humano nem logrou
saber usar parcela significativa da própria capacidade mental. Pode, na
atualidade, a ilha avaliar, em toda a sua extensão, o continente?
José de Paiva
Netto, jornalista, radialista e escritor.
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