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“Lava-Jato” e “Lulismo”: a guerra começou agora!


A prisão de Lula, fruto da Operação Lava Jato, gerou um dos momentos mais tensos da história política do nosso país. Pela primeira vez, depois de muitas décadas, uma grande parte da população foi às ruas para protestar contra a prisão do seu maior “líder”. 

A Operação Lava Jato, enfim, prendeu o mais mítico dos seus réus. No entanto, os protestos foram severos e a efetivação da prisão não foi tranquila como a dos outros acusados. A própria legitimidade da prisão foi questionada. A própria condenação, rápida como foi, também é acusada de ter sido baseada em provas muito fracas. 

Seja como for, a prisão foi decretada. Mas a Operação Lava Jato, que, nesse caso específico, tinha em mira o Lula, e tão rapidamente o prendeu, não contava (ou talvez até contou) com um inimigo invisível, ou melhor, visível nas redes sociais e até em muitos protestos nas ruas. Esse outro inimigo (sem cara, sem crimes, sem matéria) se chama “lulismo”. 

O lulismo não é da esquerda nem da direita. Não é o Lula nem seus militantes. O “lulismo” é uma “ideia” ou até um “movimento” (não é tão reacionário, como muitos pensam, pois sempre foi conciliador), embora reaja à prisão do Lula. 

A reação negativa à prisão do Lula deu-se em virtude de muitos outros fatores. Um país sempre governado pela direita e nunca pela esquerda propriamente dita. Lula, nas primeiras candidaturas, quando perdeu as eleições, defendia os movimentos de esquerda e, nas vitoriosas, representava o meio termo entre os desejos dos mais pobres e a não reação aos mais ricos. Seu governo (2003 a 2010) foi conciliador e a luta entre classes pouco emergia. O que se destacou foi sua agenda social que ele implantou e que favoreceu, em diversos segmentos, as classes sociais mais necessitadas. 

As pesquisas eleitorais em que ele lidera, a história política que escreveu, inclusive reconhecida a nível internacional, assim como a possibilidade (ou até a certeza) de que muitos outros réus da Lava Jato não foram presos e disputarão as eleições presidenciais esse ano, foram o tempero certo para fundamentar os protestos daqueles que enxergam injustiça na sua prisão. 

Esse inimigo (conjunto de protestos e de ideias contrárias à prisão de Lula) são apenas o obstáculo primeiro que a Lava Jato encontra no poder de reação à prisão do Lula. Esses manifestantes são até criticados pela mídia de mais audiência e até punidos (os pichadores do prédio da Presidente do STF foram “condenados” a “limpar” a sujeira)... 

O “lulismo”, ao contrário, passa despercebido e, a sentença, o acórdão, as negativas de habeas corpus, sobretudo pelo STF não o atingiram. Os agentes federais que levaram Lula até a prisão encarceraram um “homem” e até sufocaram muitas ideias. Mas o “lulismo” não entrou na cela junto com o ex-presidente e, se entrou, saiu com uma dimensão muito maior do que antes e sempre esteve solto. 

A prisão de Lula, na verdade, fortaleceu o “lulismo”. Como negar que o que acontece com o símbolo de um “fenômeno” não interfira nos seus desdobramentos. “Eu não sou mais um ser humano, sou uma ideia” (Lula em discurso no dia de sua prisão). 

A prisão do Lula demonstrou que foi possível prender o Lula; a armadura estatal é forte, muitas forças envolvidas; assim como o apoio maciço da mídia. Mas as eleições de 2018 não ficaram bem definidas, ou melhor, estão muito indefinidas. A prisão do Lula fortaleceu o “lulismo” e é bem provável que, preso, o discurso de Lula adquira mais força, pois diante do quadro atual, possivelmente será uma “vítima” que já não “agride”, não “critica”, não “articula” (embora na prisão essa articulação será mais fácil, mesmo invisível). 

Então, a prisão do ex-presidente deixa de ter uma conotação de “luta contra a corrupção” (embora, quem sabe, até seja), e passa a representar uma “prisão política” (embora, quem sabe, nem seja) e a força da Lava Jato passará por uma prova de fogo representada na seguinte indagação: “Seria melhor Lula solto ou Lula preso? 

Posta em xeque a “imparcialidade” da Operação Lava Jato, sobretudo pelo argumento de que outros corruptos não foram presos, se desencadeará a possibilidade de, em breve, outro presidenciável ou até o presidente atual sofrer consequências – a prisão – provavelmente, para “matar” (creio que será uma tentativa frustrada) a ideia de que somente Lula foi preso. Mas, para o “lulismo”, isso tudo é bobagem. 

A condenação e prisão de Lula, por serem próximas às eleições em que este lidera, sempre apresentará uma conotação política (inclusive nas páginas da História) e será muito difícil apagar. 

De dentro da cela, Lula poderá “encabeçar” uma nova candidatura e o candidato que ele apoiar irá para o segundo turno! Não será fácil bater no Lula preso – era a prisão a arma principal que seus adversários tinham contra ele – já não há mais nada agora, nosso país não admite a pena capital. Agora será muito difícil atacar o Lula preso: sem “voz”, sem “reação”, sem “poder”, encarcerado num ambiente de 15m2 (quinze metros quadrados). 

Preso, potencialmente capaz de influenciar decisivamente no resultado das eleições, provavelmente ficará na cela até o fim do período eleitoral. Porém, lá fora, o “lulismo” vai-se intensificar, agora num ambiente mais favorável – a prisão vitimizou seu maior símbolo. Se antes, o vilão liderava as pesquisas e agora, como será visto pelo povo o prisioneiro-vítima? 

Sua candidatura poderá não prosperar, mas é possível que vença as eleições o candidato que ele apoiar, sob os murmúrios da sua solidão na cela e sob o silêncio aterrador do “lulismo” nos recantos do país e nas notícias do mundo. Preso, Lula preso, antes da eleição, que fique preso... Se soltarem, poderá registrar a candidatura e vencer as eleições, mas esse não é e nunca foi o desejo daqueles que torcem e operam a Lava Jato!

Texto escrito por Clécio Gonçalves Dias.
Foto reprodução/Internet

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