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Reforma política: pode ser o primeiro passo para a extinção dos partidos “nanicos”


Começou a caça aos pequenos partidos políticos. Na verdade, os pequenos partidos incomodam e poluem o sistema eleitoral desde muitos anos, tanto pela quantidade de trabalho e gastos que geram no processo eleitoral assim como o acesso “indiscriminado” de pessoas tão “pequenas” como os próprios partidos. 

Os grandes partidos são, na verdade, o fator determinante da escolha dos dirigentes do país, em todos os sentidos. Não é o povo, como pensam os mais sonhadores; também não é a mídia, como pensam os “midiófobos”. O que determina as estratégias para a escolha dos dirigentes não é o período eleitoral, como imaginam os apaixonados pela “democracia”! 

Antes das eleições. Antes mesmo da escolha dos candidatos. Antes mesmo das engenhosidades dos grandes partidos, os possíveis nomes são escalados. Os “grandes” devem sempre dominar nos países dos “pequenos”! 

Não bastam somente os grandes “políticos”, têm que ser os grandes “partidos”! Isso porque os pequenos partidos cheiram à gentalha das regiões mais pobres e deixá-los em “evidência” é desconfortável. Somente os grandes arquitetos do poder deverão ter espaço nos grandes partidos e somente os grandes partidos podem ter espaço nos maiores cargos! 

Essa estranha democracia (“demo”: povo; “cracia”: poder) ganha novos sentidos, mas o “poder do povo” não é um deles! A manutenção apenas dos “grandes partidos” é mais uma estratégia do que uma organização. A justificativa para o enfraqueciemento dos pequenos partidos é de que estes são fáceis de ser corrompidos. Podem ser vendidos, “doados”, alugados etc. 

No entanto, essa “blindagem” dos grandes partidos não tem sustentação. Os acontecimentos têm mostrado que os grandes partidos também se vendem, se “doam”, se alugam e também compram, alugam e recebem muitas doações. 

Sábias as palavras do dirigente do PSTU, José Maria de Almeida, em entrevista sobre a reforma política: 

“Quem criou a crise em que estamos? Os grandes partidos: PT, PMDB e PSDB, rebate José Maria de Almeida. Quer maior partido de aluguel que o PMDB? Há mais de 20 anos vive de vender seu tempo na TV, nas eleições presidenciais para o PT e PSDB”. (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1929038-nanicos-se-unem-para-contestar-reforma-politica-no-stf.shtml). 

Os grandes partidos são os responsáveis pelos grandes estragos político-sociais, mas os pequenos partidos é que levam à culpa e são punidos. Interface incrível com o estrato social brasileiro: os grandes políticos são os responsáveis pelos maiores rombos do país, mas os mais pobres é que pagam o pato, de diversas formas. 

Essa incessante busca pelo enfraquecimento dos partidos pequenos pode levá-los ao fim, sua extinção é inevitável. Mas o desfecho é mais horrendo do que pensamos. O “fim” dos pequenos partidos tem outros grandes significados que fingimos não ver! Existe um escalonamento de poderes e não-poderes não tão invisíveis como pensam os engenheiros do poder! 

A perseguição aos pequenos partidos tem uma relação incrível com as regras do sistema! Só podem chegar aos altos cargos os “grandes” homens e somente o podem através dos grandes partidos! Os pequenos homens (como você e eu) só poderiam chegar aos altos cargos através dos partidos, mas os grandes partidos não terão espaço para nós e os pequenos partidos deixarão de existir. 

O sistema fecha o cerco: agora não são somente os “pequenos” homens que estão eliminados do poder, pois os pequenos partidos, que não tinham tanto acesso, agora também perdem o direito de existir! 

Uma relação “escandalosa” e “trágica” com os pequenos homens (como você e eu). O acesso aos grandes cargos já nos era negado. O sistema de agora em diante se “elitiza” mais e proíbe a existência dos partidos nanicos e, aos poucos, vai eliminando o direito de existir também dos pequenos homens (nanicos como você e eu). 

Em São Paulo, os “pequenos” homens estão sendo internados à força, como se sua própria vontade não existisse (no governo de Dória). Vou mais além: como se eles próprios não existissem. Negamo-nos a nos identificar como aqueles pequenos homens, mas não podemos ser tão hipócritas para aceitar a ideia de que nos identificamos com o prefeito de São Paulo. 

A eliminação dos pequenos partidos tem tudo a ver com a eliminação dos pequenos homens! Os pequenos homens deixam de existir, todos os dias, nas favelas, nos hospitais, na zona de fogo das operações policiais e nos assaltos rotineiros dos delinqüentes. Os mesmos pequenos homens deixam de existir na fila da previdência social morrendo antes de receberem sua aposentadoria (embora tenham morrido antes mesmo de lutar pelos próprios direitos) em outros processos de eliminação. 

Os pequenos partidos “incomodam” e “poluem” o sistema eleitoral, assim como os pequenos homens “incomodam” e “poluem” o sistema social! A relação é muito grande! Muitos estão satisfeitos com a “eliminação” dos partidos menores, mas se esquecem que também são pequenos e, como os pequenos partidos, podem deixar de existir, sem lamúrias e lamentações! 

Clécio Gonçalves Dias

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