*Por Paiva Netto
Vou contar-lhes esta
história, porque quem disser que não quer ser amado está doente ou mentindo.
Ela começa na Bahia, cruza o sul do país e tem belo desfecho no Rio de Janeiro.
Em 27 de janeiro, meus
pais, Bruno (1911-2000) e Idalina Cecília (1913-1994), se
estivessem entre nós, completariam mais um ano de feliz casamento.
Peço licença a vocês
para narrar o autêntico conto de amor que ambos viveram, modelo de perseverança
e superação para os que se gostam.
Conheceram-se em
Camaçari. Hoje, um dos mais importantes polos petrolíferos do Brasil. Ele tinha
9 anos de idade. Ela estava com 7. Quando cresceram, a família foi contra o
namoro por serem primos. Não que fossem pessoas ruins, temiam o grau de
parentesco. Então, colocaram meu pai num seminário e mandaram minha mãe, ainda
jovem, para o Rio de Janeiro. Passam-se muitos anos, quando meu velho, já sem
batina, também vai para a Cidade Maravilhosa. Entretanto, não a encontra nessa
primeira tentativa. Desiludido, viaja por várias regiões do país, incluído o
sul. Longe de seu verdadeiro amor, volta ao Rio decidido a localizá-la.
Certo dia, na capital
carioca, o querido e consagrado compositor e cantor Dorival Caymmi (1914-2008), conhecido deles desde a infância, topa
com seu Bruno e lhe diz, com seu sotaque bem baiano: “Ô Ioiô, você sabe quem encontrei? Idalina!! Ela veio, com uma prima,
aqui na rádio. Está morando na rua Gregório Neves, no Engenho Novo”. Meu
pai não titubeou e dirigiu-se ao endereço indicado por Caymmi. Chegando lá, foi
recebido pela minha tia-avó, Amália. Ao vê-lo, ela se vira para dentro de casa
e chama em alta voz: “Idalina, o seu
primo da Bahia está aqui! Ele veio casar com você!” E um dado curioso é
que, um mês antes desse reencontro, minha mãe terminara seu noivado forçado com
um médico. Naquele tempo, o poder patriarcal era uma parada!
Idalina e Bruno
uniram-se em 1940, vinte anos depois que se viram pela primeira vez. Adivinhem
quem foi o padrinho de casamento? O saudoso Dorival Caymmi, privilegiado marido
de Dona Stella Maris (1922-2008) e
ditoso pai de Nana, Dori e Danilo, e que sempre encantou as plateias.
Observando o grande
exemplo de meus amados pais, relembro, com Lícia
(1942-2010), minha irmã, algumas palavras que publiquei em Reflexões e Pensamentos — Dialética da Boa Vontade, lançado em
1987: Assim como o sangue, circulando pelo corpo, oxigeniza e alimenta as
células humanas, o Amor, percorrendo os mais recônditos pontos de nossa Alma,
fertiliza-a e a torna plena de vida. (...) Ao término de tudo, ele — que se
expressa das mais surpreendentes formas no sublime labor de conduzir os homens
à sobrevivência — vencerá! Prosseguimos acreditando na vitória final do
Espírito Eterno do ser humano, “a Obra
Máxima do Criador”, na definição de Alziro
Zarur (1914-1979).José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com
0 Comentários