Lesões na pele e coceira intensa têm intrigado moradores do Recife, Camaragibe e Paulista - cidades onde autoridades sanitárias, pesquisadores e médicos investigam o que pode estar por trás desses sinais e sintomas. Os primeiros casos vêm do começo de outubro, mas a Vigilância Epidemiológica do Recife só ficou ciente da ocorrência no início deste mês, quando recebeu a notificação de cinco casos de crianças com lesões e coceiras na pele, no Córrego da Fortuna e no Sítio dos Macacos, na Zona Norte da cidade.
No último dia 18, quando o JC divulgou o alerta epidemiológico da capital
pernambucana, já havia registro de 79 pessoas, com idades entre dois e 96 anos,
com os mesmos sintomas. Até a última atualização, nesta segunda-feira (22),
Recife acumula 117 casos registrados. Não há registro de hospitalização nem de
agravamento dos casos, até agora.
No dia 19, a Prefeitura de Camaragibe também informou ao JC que pelo menos
60 residentes do município também manifestaram o mesmo quadro. A Prefeitura
de Paulista registrou cinco casos.
Mas o que explica este surto? O que fazer para evitar? Como aliviar os
sintomas? Saiba o que já se conhece e o que ainda falta saber sobre essa
condição.
Lesões não seguem um padrão
O médico infectologista Demétrius Montenegro, chefe do setor de doenças
infectocontagiosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), explica que o
mais intrigante é que os casos notificados não apresentam um padrão. "A
variabilidade das lesões é grande. Por isso, identificar a causa não é simples.
Mais de 80% das pessoas acometidas apresentam apenas as lesões de pele e a
coceira. Uma pequena parcela também relata febre. Isso pode levar a uma
superposição de diagnóstico, o que dificulta a investigação. É um trabalho de
juntar peças de um quebra-cabeça", sublinha Demétrius.
É zika? É dengue ou chicungunha?
Sobre a possibilidade de se tratar de arboviroses, o infectologista Demétrius
Montenegro comenta que as lesões têm se apresentado de forma diferente do
exantema que tende a aparecer nos casos de zika, por exemplo. "Nesses casos
de agora, estamos vendo pequenos caroços na pele, que causam coceira, levam
a ferimentos, podendo até sangrar, e formam uma crosta." Além disso, Demétrius
fala sobre diferenças na duração dos sintomas "Há pacientes que ficam bem" fala sobre diferenças na duração dos sintomas. Há pacientes que ficam bem
rapidamente, mas há outros em que o quadro demora mais de dez dias, mesmo
quando seguem o tratamento para alívio das manifestações (lesões e coceira)",
diz o infectologista. Para ele, pelo fato de os casos terem começado em
localidades próximas a áreas de mata, existe a possibilidade de o surto ser
causado por um desequilíbrio ambiental, o que levaria algum inseto a causar as
lesões na pele com coceira.
Por que o número de casos dessas lesões e coceira só
aumenta?
O aumento do número de notificações, segundo a Secretaria de Saúde do Recife
(Sesau), é esperado, uma vez que, com o alerta epidemiológico emitido na última
semana, é natural que as redes de saúde pública e particular fiquem mais atentas
a pacientes com sinais sugestivos dessa condição.
Como está sendo feita a investigação?
Na última sexta-feira (19), representantes da Secretaria Executiva de Vigilância
em Saúde do Recife, da Secretaria Estadual de Saúde e do Instituto Aggeu
Magalhães, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, além
de um médico infectologista e de um médico epidemiologista, estiveram
reunidos para discutir os casos. "Ainda é necessário aguardar resultados de
alguns exames laboratoriais dos casos e da análise de ácaros e mosquitos
capturados para que seja possível apontar conclusões. Nesta semana, uma nova
reunião entre os especialistas deve ser realizada", informa a Sesau.
A Secretaria de Saúde do Recife (Sesau) destaca que, até agora, não houve o
registro de agravamento associado à aparição das lesões cutâneas nos
pacientes e que segue atuando em diversas linhas de investigação. "Uma delas é
desenvolvida por meio da captura de mosquitos, por equipes da Vigilância
Ambiental, em alguns domicílios situados nas localidades onde houve
notificações de casos, trabalho que também terá continuidade nos próximos
dias. Serão realizados, ainda nesta semana, exames de raspado de pele em
alguns pacientes notificados", diz a Sesau.
Fonte: JC Online
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