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Seriema, a ave que possui características que a torna parecida com dinossauros

Foto: Almir Neves / Blog Merece Destaque.

Se para nós, encontrar seriemas hoje é lembrar de boas memórias de infância, para a ciência, é voltar milhões de anos no passado. O comportamento da espécie e características impressionantes, como sua "garra assassina" em forma de foice, permitem aos paleontólogos deduzir como era a vida de animais há muito extintos.

Presente em ambientes abertos em praticamente todos os estados brasileiros fora da Amazônia, a seriema ocorre também na Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Além da espécie que ocorre no Brasil (Cariama cristata), existe uma outra (Chunga burmeisteri) que é um pouco menor, menos colorida e ocorre apenas na Bolívia, Paraguai e Argentina.

As duas espécies de seriemas são os últimos parentes vivos de um grupo de aves que literalmente "tocou o terror" no mundo por milhões de anos, as aves-do-terror (sim com hífen mesmo, já que esse é o nome popular desses animais e não um "elogio" macabro). Pertencentes à família Phorusrhacidae, as aves-do-terror foram os grandes predadores dominantes nas paisagens abertas da América do Sul por mais de 60 milhões de anos.

Antes da formação da América Central, há cerca de 5 milhões de anos, a América do Sul foi por muito tempo uma gigantesca ilha. No que viria a ser um dia a América do Norte, Europa, África e Ásia, grupos como felinos, cachorros e ursos passaram a ocupar os papéis de grandes predadores que foram deixados vagos após a extinção dos dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos. Mas na isolada América do Sul, esses grupos de animais carnívoros iriam chegar só recentemente, após o surgimento da "ponte" formada pela América Central. Assim por aqui a evolução da vida seguiu por muito tempo um caminho independente, e as aves-do-terror dividiram com parentes dos atuais marsupiais, o "título" de predadores de topo.

São conhecidas cerca de 20 espécies de aves-do-terror a partir de fósseis. Um dos espécimes mais completos encontrados até hoje é Paraphysornis brasiliensis, que foi escavado em Taubaté, no Vale do Paraíba paulista. Paraphysornis podia atingir cerca de 2 metros de altura, consideravelmente menor que algumas outras espécies de aves-do-terror, como Kelenken guillermoi que podia chegar a 3 metros. Embora as seriemas sejam bem menores e mais delicadas, atingindo cerca de 70 cm de altura, elas são verdadeiras miniaturas de aves-do-terror e, por também serem animais principalmente carnívoros, os pesquisadores acreditam que as seriemas nos dão preciosas pistas sobre como eram seus parentes "aterrorizantes" em vida.

Um comportamento das aves-do-terror que os pesquisadores acreditam que as seriemas ajudem a entender é como elas caçavam e matavam as suas presas. Assim como as seriemas, estudos apontam que as aves-do-terror eram capazes de atingir grandes velocidades, o que certamente facilitava na perseguição de presas.

Quando captura uma presa, a seriema a mata erguendo-a com o bico e arremessando violentamente contra o solo, ação que é repetida diversas vezes. Depois de morta, a presa é pressionada e segurada contra o solo com o auxílio das garras e dilacerada em pequenos pedaços que são engolidos. Agora imagine a mesma cena interpretada por uma ave de 3 metros de altura e mais de 100kg... Agora você entende por que o nome ave-do-terror?

Outro estudo recente, realizado por paleontólogos americanos, também focado no comportamento de caça da seriema, mostrou que, além das aves-do-terror, a seriema pode nos dar pistas de como se comportava em vida um dos dinossauros mais famosos, o Deinonychus. Apesar dos cerca de 110 milhões de anos que as separam, essas duas espécies possuem algo notável em comum: uma garra em formato de foice no segundo dedo dos pés, sugestivamente chamada de "garra assassina". Essa verdadeira arma entre os dedos, inclusive inspirou o nome do dinossauro, já que em grego antigo Deinonychus significa "garra terrível".

Desde a descoberta do fóssil de Deinonychus, os paleontólogos acreditavam que a função da sua garra assassina está relacionada com a captura e manipulação de presas. Inicialmente se acreditava que as garras seriam utilizadas para ferir as presas, rasgando a sua pele. No entanto, após análises mais aprofundadas um paleontólogo sugeriu que a garra deveria ser usada para manter a presa já morta fixa no solo, possibilitando que pedaços menores fossem arrancados para serem mais facilmente ingeridos.

Para observar como a seriema utiliza a sua "garra assassina", esse grupo de paleontólogos disponibilizou presas e objetos, como cobras de borracha e até mesmo um chaveiro, para duas seriemas em cativeiro. Assim, puderam perceber que a principal função da garra assassina da seriema é pinçar e segurar as presas para serem dilaceradas depois de mortas, sugerindo assim que a hipótese de que a garra do Deinonychus é pra segurar, e não para rasgar, é bastante plausível.

Seja em vida livre ou em um zoológico, da próxima vez que você observar uma seriema, não importa a distância que ela esteja, lembre-se que no quesito tempo você está literalmente olhando para beeeem "longe".

Texto escrito por Luciano Lima para o Terra da Gente

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