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Juntos por AMOR a Santa Cruz: o desenvolvimento e a formalização dos negócios no Brasil é uma ameaça à economia santacruzense. Qual a saída?

A Feira da Sulanca surgiu nos anos 60, na Rua Siqueira Campos, em Santa Cruz do Capibaribe. A partir da tradição nordestina centenária das colchas de retalho, algumas costureiras começaram a fabricar pequenas bermudas, os shorts, e iniciaram o que seria um dos mais grandiosos projetos de desenvolvimento econômico em áreas insalubres do mundo!

O formato do negócio se baseava, como pilar principal, na economia familiar: as mulheres costuravam em casa e os maridos vendiam na feira. Frequentemente havia a participação de outros membros da família em variadas fases do negócio, como filhos pequenos na produção e filhos maiores no transporte ou no comércio da mercadoria. 

Na famosa Feira da Sulanca, a informalidade também era um pilar fundamental. As sociedades eram verbais e não havia relações comerciais e de trabalho documentadas como contratos de fornecimento de mercadoria, notas fiscais ou contratos de trabalho. Há de se salientar que o papel do poder público, nessa fase, foi apenas inerte: não houve incentivo nenhum aos sulanqueiros, mas também houve vista grossa aos negócios informais e todas as irregularidades comerciais praticadas. Tratavam-se de pessoas humildes tentando sobreviver em uma terra esquecida pelas autoridades e castigada pelas condições naturais adversas.

A Sulanca cresceu como atividade! O produto fez fama sobretudo pelos baixos preços, o maior diferencial competitivo do formato do negócio. E a cidade de Santa Cruz começou a crescer proporcionalmente ao crescimento da feira, que chegou a ocupar boa parte das ruas do centro da cidade. Também cresceram os sulanqueiros! Deixaram de ser simples pessoas humildes lutando pelo pão de cada dia.

Como para todo empreendedor, a necessidade de manter o crescimento foi um desafio a ser conquistado! Os sulanqueiros começaram a se organizar, construíram estruturas maiores, alguns fundaram empresas e, enfim, o poder público, sobretudo através das autoridades municipais da época, resolveu dar sua contribuição! Um novo sonho! Um local melhor, próprio para o comércio, coberto, com banheiros e praça de alimentação. Foi assim que surgiu o Moda Center Santa Cruz. 

A prefeitura fez o projeto, comprometeu-se a transferir a Feira da Sulanca para o local e os comerciantes, ao adquirirem os boxes e as lojas, financiaram tudo. Foi uma nova etapa da atividade industrial têxtil santacruzense. O Moda Center vingou, os sulanqueiros cresceram mais e se tornaram empresários, proprietários de máquinas e imóveis, contratantes de mão de obra!

Essa nova fase da atividade confeccionista, com sulanqueiros em ascensão e se tornando empresários, aconteceu junto com o grande movimento de crescimento econômico brasileiro, após a estabilização da economia e o controle da inflação desde 1992. A saber, o Brasil também passou, nesses últimos 20 anos, por transformações sociais, no sentido de mais acesso à informação pela grande massa popular, o que encorajou a formalização das relações, sobretudo as trabalhistas. 

Ainda nesses últimos 20 anos, houve um aumento real na renda das pessoas, com salário mínimo crescendo de 90 dólares no início do Plano Real para os 300 dólares atuais. Ademais, ao perceber que os sulanqueiros não se tratavam mais de meras pessoas lutando para sobreviver em uma terra insalubre, e se tornaram grandes empresários construindo fortunas, o poder público, natural e obviamente, chegou a nossa cidade para cobrar os impostos. 

Observe-se as modificações do cenário micro e macroeconômico desde o surgimento da sulanca e dos sulanqueiros, até a consagração da atividade confeccionista: maiores salários, formalização das relações trabalhistas, emissão de notas fiscais e pagamento de impostos. Essas modificações culminaram com o aumento dos custos de produção e a perda do principal diferencial competitivo da antiga sulanca: o baixo preço de venda. O crescimento econômico brasileiro e o fortalecimento do mercado interno chamou, para completar, a atenção de concorrentes internacionais como os produtores asiáticos e os latinoamericanos. 

A economia santacruzense está em xeque! Existem diversas saídas a serem avaliadas, entretanto. Afinal de contas, o povo de Santa Cruz do Capibaribe trabalha muito! E quem trabalha passa dificuldade, mas jamais vai à falência. Fique ligado! Nas próximas publicações, abordaremos as variadas soluções, com exemplos internacionais de sucesso. Muito obrigado pela atenção!

Francisco Zacarias

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