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“Operação Lava Jato”: uma “tentativa” antecipadamente frustrada

Por Clécio Dias*

A “Operação Lava Jato” deu uma grande investida na recuperação da sua potencialidade. Após muitas críticas da população sob a alegação de que tinha sido criada para “pegar” o Lula, a “Lava Jato” contra-atacou e anunciou o envolvimento de Aécio e Temer, entre outros, nos esquemas e formalizou sua inclusão entre os investigados! 

O plantão do Jornal Nacional emplacou. A “ação” da “Lava Jato” de repente ecoou nos quatro cantos e até na imprensa internacional. Nada poderia ser tão alentador para o brasileiro! Enfim, a tão “miserável” e “cruel” corrupção poderia estar dando os seus últimos suspiros! 

Na verdade, “crise” e “esperança” ruborizaram o rosto de muitas pessoas, mas não de todas, pois aquelas que vêm acompanhando a história do Brasil sabem que não é motivo para festejar. Ainda é muito cedo! 

Não é de hoje que o país tenta “atacar” a corrupção! A caça aos “marajás” não é recente! Vinte e cinco anos antes, em 1992, Fernando Collor sofreu o impeachment; o chamado Mensalão, tempos depois, invadiu a mídia televisiva do país e o povo “acreditou” que era o fim da corrupção. 

Mas o combate à corrupção, no Brasil, é similar ao “enxugamento de gelo”! Quando Collor deixou o poder, outros ocuparam seu lugar e o país continuou sendo saqueado da mesma forma. Se era com a complacência do Judiciário, não se sabe ao certo, mas que a corrupção se desenvolvia tranquilamente, disso não tenha dúvida! 

É que a corrupção no sistema político da nossa nação se arraigou de tal forma que os corruptos e as formas de corrupção passam entre os dedos dos investigadores e quando estes pegam um corrupto que desviou 100 milhões recuperam apenas 5 milhões e outros 95 milhões se espalham numa rede infindável que Juiz nem Promotor descobrem. 

A corrupção no Brasil não vem de cima para baixo e nem vai de baixo para cima. Ela toma grandes dimensões e se espalha da menor prefeitura até o alto escalão do poder federal. A corrupção se escalona, se elastece, se adéqua, se adapta, toma novos contornos dependendo da situação. A corrupção não é “característica” somente do alto escalão do governo. Ela se desenvolve no mais “desumano” presídio até os mais luxuosos palácios das grandes autoridades. 

A corrupção não é só coisa do sistema público. Ela se une e se mistura ao particular. A Odebrecht e a JBS são grandes empresas privadas. A casadinha não poderia ser tão milionária se não fosse com o governo. Até porque o dinheiro público é mais “fácil” e ninguém toma conta dele. No Brasil, a “coisa pública” é sinônima de “coisa de ninguém”. Linchamos o “marginal” que furta um mercadinho e votamos no “marginal” que desvia o dinheiro público! 

Por muito tempo se acreditou que as operações anticorrupção empreendidas há mais de uma década tivessem um efeito positivo nas futuras gestões. Mas isso não aconteceu. Estamos em 2017, 25 anos depois que Collor e seus parceiros foram “banidos” por motivo de corrupção e temos a impressão de que o Brasil está mais corrupto do que naquela época. E essa sensação é verdadeira. Os corruptos sempre estão a um passo das operações que os investigam, sempre estão a muitos passos dos promotores e juízes e sempre estão a muitos passos do povo que os elege. 

Há muito tempo, existe uma “escola” (verdadeira faculdade) de como fazer corrupção. E, incrivelmente, as investigações desarticulam um tipo de esquema e outros esquemas se desenvolvem quase que naturalmente. Numa época em que o tripé do poder federal se concentra no PMDB, PSDB e PT não podemos acreditar na ideia de que o poder emana do povo, pois o poder não vem do povo. Na verdade, o poder do país, há muito tempo, vem sendo do PT, do PSDB e do PMDB. 

Cada qual com seus esquemas, com suas articulações, com suas maldades, suas “bondades” e “benevolência”! O PMDB se comporta como rêmora e se fixa ao PT ou PSDB. Os tucanos articularam e articulam suas mazelas, dependendo da conveniência. O PT desenvolveu um tipo de corrupção muito inteligente: os “poderosos” programas sociais! Camuflagem quase perfeita para o desenvolvimento de qualquer tipo de corrupção. O ladrão passa a ser o “bom ladrão”! Isso é até bíblico! Uma mão que doa, que serve, que alimenta; outra mão que desvia, que põe o dinheiro na cueca, que sorrateiramente “leva” e não trás! 

A “Lava Jato”, no momento, passa a ser a bola da vez! A prisão dos grandes “corruptos”, pelo menos de alguns deles, pode lhe dar o epíteto de “A Operação”! Porém ela não alcança todas as veias da corrupção no país: que se desenvolve na menor sala de uma repartição pública, desde os vãos de um presídio, onde o carcereiro corrupto tortura um condenado; na entrega de uma mala de dinheiro na rua, displicentemente; ou quem sabe o desvio de uma injeção ou de qualquer medicamento na presença de um paciente terminal! A “corrupção” tem um quê de teatral e de crueldade sem comparação! 

A Lava Jato é passageira! Cumprirá seu papel de “esperança” anticorrupção? Desarticulará uma séria de corruptos e de modalidades de esquemas? Parece que não! Reforce-se que, entre seus dedos, escaparão os “grandes” corruptos e, ao seu lado, nascerão os novos corruptos, dos microcorruptos aos mais ricaços! 

A imprensa internacional vai até pensar que o Brasil está lutando contra a corrupção, mas ela não terá notícia da rede infinita de esquemas de desvios de dinheiro, dos mais luxuosos palacetes construídos com o dinheiro público abrigando os mais “estrategistas” políticos aos hospitais, presídios, escolas, abandonados completamente, cheios de pacientes morrendo nos corredores, presos decapitados nas celas e crianças traficando drogas nas arruinadas salas de aula. Um país muito diferente daquele construído nas fantasiosas armações do marketing e vendido nas campanhas dos governos! 

O espetáculo foi muito bem montado: as sensacionais prisões, as admiráveis delações premiadas e os tão “sinceros” delatores! Uma grande parte da população já acredita que a corrupção começou a acabar, mas, na verdade, pode ser que esteja acabando de “recomeçar”, sob outras estratégias, outras artimanhas, outras escalas e outros níveis! Em breve, uma nova operação nascerá e receberá outro “nome de batismo”, mas veremos que a corrupção sempre sobrevive a elas e, mesmo que cada “esquema” receba um nome (para propaganda midiática), será a mesma “corrupção”, mas “materializada” de outras formas. 

*Clécio Gonçalves Dias
poeta, corretor de imóveis e advogado!

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