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Transtornos de personalidade, temperamento afetivo e representatividade cinematográfica

Por Dr. Sivan Mauer*


A abordagem visual dos filmes é um poderoso instrumento utilizado para elucidar de forma didática a realidade dos transtornos mentais e demais problemas de saúde, atuando desde o reconhecimento das doenças até sua aceitação social. Contudo, o mundo do “show business” peca na forma certa de retratar esses distúrbios, associando-os sempre a loucos ou assassinos que, muitas vezes, conseguem alternar suas personalidades apenas com a força do pensamento.

Essa má representação estigmatiza os portadores de transtornos mentais, vinculando-os a um comportamento violento, irracional e perigoso para a sociedade. Mas não é isso que acontece na realidade. Em geral, esses indivíduos não fazem mal às pessoas a seu redor, mas sim a si próprios. Para entender melhor o assunto, hoje podemos olhar os transtornos de personalidade através dos conceitos de temperamentos afetivos, “re”descobertos recentemente pela psiquiatria.

Os conceitos de temperamentos podem ser separados em três tipos básicos: Hipertimia, que contempla sintomas leves de mania, como aumento da energia, necessidade diminuída de sono, libido exacerbada, sociabilidade, extroversão e senso de humor; Distimia, que engloba sintomas depressivos leves, como baixa energia, maior necessidade de sono, libido reduzida, ansiedade social, introversão, baixa produtividade no trabalho; e Ciclotimia, que apresenta constantes alternâncias entre sintomas leves de depressão e mania, como altos e baixos no humor e nos níveis de atividade.

Os três conceitos são baseados na construção afetiva-comportamental do indivíduo, de forte origem genética. Parentes próximos de pacientes com transtorno bipolar, por exemplo, têm um maior grau de desregulação temperamental, podendo apresentar transtornos de personalidade ao longo da vida. Pesquisas recentes identificaram uma prevalência mais alta de temperamento ciclotímico em pessoas com histórico familiar da doença, principalmente em parentes de primeiro grau de pacientes com doença de transtorno bipolar.

Contudo, o grande problema ao redor dos transtornos de humor é a negligência no tratamento. Ao ignorar os sintomas particulares de cada tipo de transtorno, os antidepressivos são usados ​​em excesso, com menos eficácia e consequências prejudiciais. O melhor a se fazer é direcionar o paciente para uma avaliação com um médico psiquiatria a fim de entender a melhor alternativa terapêutica e, consequentemente, aumentar as chances de sucesso no tratamento.

*Dr. Sivan Mauer é médico psiquiatra especialista em transtornos do humor. O profissional é mestre em pesquisa clínica pela Boston University School of Medicine, dos Estados Unidos, e doutor em Psiquiatria pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

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