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No decorrer da pandemia, pacientes curados da Covid apresentam sintomas de outras doenças, que não tinham antes

Distúrbios mentais, cardiovasculares, metabólicos, gastrointestinais, neurológicos, fraqueza e fadiga, são algumas das patologias que acometem os pacientes no pós-Covid, segundo médicos da clínica popular Clinipae.


Com lotação do SUS, as clínicas populares tornaram-se soluções acessíveis para que pessoas de baixa e média renda tenham acesso a serviços de saúde. De acordo com dados da Clinipae -- Centro Médico e Odontológico da Riopae, empresa de assistência familiar, os atendimentos médicos e exames cresceram em 12,5%, comparando os meses de janeiro a maio de 2020 e 2021. Se o ritmo de crescimento continuar o mesmo, até o final de 2021, esse aumento pode chegar a 30%. Afinal, nunca antes houve tanta necessidade de atendimento médico no País, tanto para quem quer garantir a saúde e a imunidade, caso se contamine, como quem já sofreu com a doença e agora precisa administrar as sequelas. A clínica oferece consultas e exames com valores, em média, 40% menores do que os praticados em clínicas particulares. Os preços das consultas variam de R$ 10 a R$ 60 para associados e de R$ 60 a R$ 80 para pacientes particulares.

No início do ano passado, segundo dados da clínica, a procura maior foi para acompanhamento médico e consultas de rotina, já que o sistema público não estava dando conta de atender outras patologias, apenas Covid. Além disso, pessoas que não se preocupavam tanto com a saúde começaram a procurar as clínicas para fazer check-up, para fortalecer o sistema imune. Até o número de homens, que não costumam ter o mesmo cuidado com a saúde como as mulheres, aumentou em 40% nos serviços de medicina preventiva.

No entanto, no decorrer da pandemia, pacientes que se curaram da Covid começaram a apresentar sintomas de outras doenças, que não tinham antes. De acordo com o relato dos médicos da Clinipae, distúrbios cardiovasculares, metabólicos, gastrointestinais, neurológicos, anemia, dores articulares, fadiga, cefaleia e dispneia são alguns dos que acometem os pacientes no pós-Covid.

As doenças cardiovasculares estão entre os maiores atendimentos, de acordo com o Dr. Marcio Petrel Bermal, cardiologista da Clinipae e Diretor Médico da Unidade de Pronto Atendimento - UPA Jardim Iris, da Baixada Fluminense. Além do aumento do sedentarismo, estresse e tabagismo, o coronavírus desregula a pressão dos hipertensos, mesmo com uso de medicamento, o que pode facilitar a formação de coágulos e evoluir para complicações, como AVC e infarto. Ainda segundo o médico, houve casos de pacientes que contraíram o vírus e, mesmo sem histórico de doenças cardiovasculares, apresentaram cardiopatia dilatada – aumento da área global do coração - após se recuperarem da Covid.

“Diversos pacientes relatam cansaço excessivo, falta de ar e fraqueza extrema após a recuperação da Covid. Subir a escada de casa, uma ladeira da rua e fazer atividades que exigem pequenos esforços ficaram difíceis após a doença, o que mostra a necessidade de saber se há outras sequelas que precisam ser monitoradas e tratadas”, diz o especialista.

Houve também um aumento da demanda para a fisioterapia, aliada importante no processo de reabilitação pós-Covid. De acordo com a fisioterapeuta Michelle Lessa da Silva, especialista em fisioterapia respiratória da Clinipae, as dores articulares aumentaram em 50% nos pacientes que tiveram Covid. “A fisioterapia respiratória está presente em todo o processo de combate à doença, desde o momento em que o paciente é internado, começando pelos exercícios de fortalecimento dos músculos respiratórios para evitar a entubação, até a necessidade de Ventilação Mecânica”, explica.

Após a alta hospitalar, há pacientes que precisam de reabilitação, como a cinesioterapia, que envolve exercícios para fortalecimento da musculatura respiratória, treino de força, exercícios de equilíbrio, controle muscular e treinamento de marcha. O tratamento pode durar de seis semanas a seis meses, dependendo do nível de comprometimento e da evolução de cada paciente.

Outra consequência da pandemia foi o aumento de casos de doenças mentais. Segundo o Dr. Jonatas Davi Stroher, clínico geral pela Universidade Iguaçu (UNIG) e médico da Clinipae, 70% dos pacientes atendidos no consultório apresentam algum transtorno de saúde mental, como ansiedade, depressão e pânico, geralmente associados às perdas familiares, desemprego e falta de perspectiva. Medicamentos vendidos somente com prescrição médica também entraram na lista dos mais consumidos indiscriminadamente, como ansiolíticos e antibióticos, o que tem causado sequelas graves.

“Muitas pessoas não procuram ajuda profissional pela dificuldade de achar um médico com boa escuta e interesse pelos problemas do paciente. É fundamental que os profissionais deem mais atenção às queixas, até para que o diagnóstico seja preciso. Muitas doenças são originadas devido a problemas psicológicos e o tratamento médico precisa ir além dos sintomas”, pontua o médico.

Diante desse cenário e ainda sem estudos científicos e clínicos sobre as sequelas que essa doença pode gerar, o que se sabe é que o caminho a ser percorrido é longo e ainda pouco conhecido. Nesse sentido, o acompanhamento de quem contraiu a doença e está passando pela reabilitação deve incluir uma equipe multidisciplinar e bastante disposição dos profissionais e pacientes para vencer mais essa etapa.

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