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Inflação é fator decisivo para crescimento da desaprovação do governo Bolsonaro, indica pesquisa Genial/Quaest

Consulta com 2 mil entrevistados em 123 cidades, mostra que avaliação negativa, entre julho e outubro, passou de 45% para 53%. Levantamento também destaca chances do ex-ministro Sérgio Moro e do governador João Dória na disputa de 2022.


A instabilidade econômica, com a inflação crescendo e a taxa de desemprego permanecendo alta, é o principal fator da queda da popularidade do governo do presidente Jair Bolsonaro. O resultado aparece na quarta rodada da Pesquisa Genial/Quaest, na combinação de resultados entre os índices de avaliação do governo e o problema que os brasileiros consideram como o mais grave do país no momento. Entre julho e outubro, a avaliação negativa do governo passou de 45% para 53%, enquanto a avaliação positiva caiu de 26% para 22%. No mesmo período, a preocupação com a economia em geral foi de 28% para 44%.

"Quando agregamos os índices relativos à economia, 69% dos entrevistados acreditam que houve uma piora de agosto para cá. E, se projetarmos os próximos 12 meses, 34% dizem que vai piorar, o que deixa clara a corrosão da expectativa no futuro econômico", analisa o cientista político Jairo Nicolau, da Fundação Getúlio Vargas.

Pela primeira vez, a Pesquisa Genial/Quaest apresentou aos entrevistados os nomes dos ex-ministros Sérgio Moro e Luiz Henrique Mandetta como candidatos à Presidência em 2022, ao lado de outros nomes que circulam no meio político, como a empresária Luiza Trajano, os senadores Rodrigo Pacheco e Alessandro Vieira, o apresentador José Luiz Datena e os governadores Eduardo Leite e João Dória Todos foram analisados em comparação aos três candidatos já declarados: Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes. Em qualquer cenário, Lula aparece 20 pontos à frente do atual presidente.

Em uma disputa de segundo turno, o candidato do PT também venceria qualquer um dos adversários incluídos na pesquisa. A menor diferença de pontos seria entre Lula (49%) e Ciro (26). Entre Lula e Bolsonaro, o resultado, segundo o levantamento, feito em 2 mil coletas domiciliares em 123 cidades, seria 53% a 29%, respectivamente.

Uma pergunta incluída pela primeira vez na Pesquisa Genial/Quaest situa as perspectivas de um candidato da chamada terceira via. Os eleitores foram estimulados a responder sobre conhecimento e voto: "conhece e votaria", "conhecia e poderia votar", "não conhece" e "conhece e não votaria". É uma forma de avaliar de maneira mais profunda os índices de rejeição de cada um – os mais citados em "conhece e não votaria".

Nesta rodada, 65% dos entrevistados afirmaram que conhecem e não votariam em Bolsonaro. Esse índice é de 61% para Dória; de 59% para Moro; de 56% para Ciro e de 52% para Datena. Lula foi citado por 43% dos eleitores. Em contrapartida, Pacheco (53%), Leite (60%), Trajano (62%) e Vieira (76%) são os menos conhecidos.

"Esses são os candidatos que, hoje, têm o maior potencial de crescimento, de acordo com a maneira como se apresentarem aos eleitores", explica o cientista político.

O levantamento também avaliou como o brasileiro enxerga hoje a pandemia do coronavírus. O avanço na vacinação mostrou efeito e a questão sanitária começa a ceder espaço justamente para a economia. Em julho, a preocupação com a saúde/pandemia era de 41% -- agora, é de 24%. Na lista de problemas, a corrupção aparece apenas em quarto lugar, no levantamento de outubro, com 10%, em empate técnico com outros temas, como pobreza e desigualdade e inflação, ambos com 9%.

"Em 2018, a corrupção chegou a ser o segundo tema mais citado pelos brasileiros. Não é mais. E o crescimento da inquietação em relação à inflação, que foi de 2% para 9% entre julho e outubro, reforça a ideia de que é a economia que está derretendo a popularidade do governo", afirma Nicolau.

Essa queda se mostra mais acentuada entre os homens: hoje, 50% dos homens consideram pior o governo, contra 41% em julho. Entre as mulheres, eram 48% em julho e são 55% agora. Ao se analisar a escolaridade, a reprovação passou de 45% para 54% na faixa que tem até o fundamental completo e que corresponde a quase a metade da população brasileira. A tendência se repete no recorte de renda. Na faixa que recebe até dois salários mínimos e que representa 48% das famílias brasileiras, segundo a última PNAD do IBGE, 58% dos entrevistados avaliam negativamente o governo, contra 46% em julho.

A Pesquisa Genial/Quaest ouviu ainda os brasileiros sobre os eventos de Sete de Setembro, sobre o recuo de Bolsonaro com a carta escrita pelo ex-presidente Michel Temer e sobre a entrevista à Revista Veja. A pergunta era se os eleitores acharam que ele errou ou acertou em recuar. No geral, 39% acharam que acertou e outros 44% que errou. Entre os eleitores de Bolsonaro, porém, 71% consideram que ele acertou ao adotar um tom mais moderado. Já no grupo de eleitores de Lula, 61% afirmam que ele errou ao recuar.

"O governo deu muita ênfase a temas ideológicos, como o fim do voto impresso, que não são prioridade para a população. Neste momento, há uma indicação de que, com a deterioração da economia, as chances de reeleição se reduziram muito. O fim da pandemia e uma diminuição da inflação, porém, podem mudar a percepção das pessoas. Agora, a questão que está pegando não é ideológica. É de cunho econômico. Essa é a dificuldade que o presidente Bolsonaro enfrenta e enfrentará", observa Nicolau.

Metodologia

A Pesquisa Genial/Quaest, que trabalha com metodologia inédita de acompanhamento da opinião pública brasileira, começou em julho deste ano e se estenderá até novembro de 2022. No total, serão 24 rodadas de pesquisa nacional, cada uma delas implicando em duas mil coletas domiciliares face a face, realizadas nas 27 unidades da federação, abrangendo 123 municípios,

A partir das entrevistas domiciliares, é feita a decupagem e análise dos dados por sexo, idade, escolaridade, renda e População Economicamente Ativa (PEA). A pesquisa também receberá tratamento estatístico de pós-estratificação para reduzir as chances de viés de seleção e de não resposta. Trata-se do primeiro levantamento feito em âmbito nacional que combina coleta domiciliar com modelagem em pós-estratificação.

O nível de confiança da pesquisa Genial/Quaest é de 95%, com margem de erro máxima de 3%, para cima ou para baixo, em relação ao total da amostra.

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