"Mãe, quelo te contar que a tia disse que fui bem na escola"...
Os livrinhos caem sobre a cama. O garotinho espera. Mas ninguém lhe deu atenção. Então, na solidão profunda, no meio dos próprios pais, ele cochila e dorme, sem ouvir a história, e pior, sem contar sua história...
Os pais, quando se dão conta, encontram o garotinho dormindo. Ficam felizes, pois agora terão mais tempo para o celular...
O tempo vai passando! Os vídeos, as imagens e as notícias vão prendendo ainda mais a atenção dos pais. A inteligência artificial já os mapeou. Sabe do que eles gostam.
Os pais estão nas mãos da inteligência artificial. O celular está nas mãos dos pais. O filho fica na mão, dorme no meio da cama, solto, sem nenhuma mão que o afague. O pai cochila sem coragem de soltar o celular. A mãe adormece com o celular no peito...
No dia seguinte, o menino acorda cedo, antes dos pais. Sente tanta inveja do celular dormindo entre as mãos do papai. Chora por dentro quando vê que o celular dormiu sobre o coração da mamãe...
O dia anterior se foi depressa. Quase nenhuma atenção o filho teve. Os pais vão trabalhar, cada um no seu canto. O filho vai desistir de pedir a historinha e de contar sua historinha na escola: a professora lhe tinha dito que seu desenho ou sua tarefa tinha ficado um show...
Mas os pais não quiseram ouvir. O celular era muito mais interessante. Mesmo acordados, os pais dormiam. A infância do menino vai passando e um dia, quando os pais se derem conta, a criança não existe mais, porque a infância dormiu, mas dormiu para sempre...
Texto de Clécio Dias.
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