O "São João" sempre chegava com muitas fogueiras. Lembro-me da lenha trazida do mato e montada na frente de casa, e das outras casas...
Toda casa tinha sua fogueira. Quando se olhava da ponta da rua, à noite, via-se o fogo de todas as alturas, que saíam delas e tinham todos os tamanhos...
Sinto a saudade dentro do cheiro da "primeira" fumaça que saía da fogueira assim que ela pegava. Às vezes, o vento era forte e a gente fazia uma barreira no momento de acender o fósforo...
Parece que escuto os estalos da madeira se acomodando à medida que o fogo ia aumentando até que alguém dizia: "pegou, agora pegou!"...
Eu ia comprar fogos e de todos os lados só via fogueira, contava as casas que não tinham, eram duas ou três, o restante das casas tinha a fachada iluminada pelo lume do "fogaréu"...
O milho, a pamonha, a canjica. Os fogos: o pipoco fofo do "peido de véia" e o barulho fraco do "traque de bebé" eu ia ouvindo enquanto contava as casas que não tinham fogueira. Eram duas ou três apenas, o resto era o clarão na porta...
Hoje ando triste, pois a minha contagem mudou: no passado eu contava as casas que não tinham, mas hoje são tantas, que sou obrigado a contar aquelas que tem um fogueira na porta, pois são tão poucas, duas ou três, na rua inteira...
Quando termino de contar fico tão desanimado, porque a inversão da contagem só sabe me dizer que a tradição das fogueiras não morreu sozinha, o verdadeiro "São João" também morreu junto à última fogueira que se apagou entre outras muitas que também viraram cinzas...
Texto de Clécio Dias.
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