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Poema de Clécio Dias destaca situação dramática do Açude da Manhosa


Sangra "Manhosa", sangra, morre e chora,
seu leito foi cortado e invadido;
seu cheiro agora está tão poluído...
não é mais o açude do passado!

Seu coração foi todo loteado,
as ruas avançaram no seu leito
como um punhal que corta e rasga o peito,
parece um corpo todo esfaqueado...

Os peixes que viviam em suas águas
morreram todos, desapareceram,
os pássaros que passavam não beberam
mais no seu leito pois só restam mágoas...

E seu sangue é escuro, não é alvo,
seu sonho de viver morre e termina...
Aqui não vão fazer como em Campina
onde o velho "Açude Velho" já foi salvo...

Ninguém vai fazer nada, não tem jeito,
"Velha Manhosa", o aterro te enterra,
quem joga terra simplesmente encerra
A vida que vivia no seu leito...

Seu formato mudou, ficou estranho...
O sol já não reflete a sua luz...
Você agora parece uma cruz...
Caída ao chão e a dor não tem tamanho...

Oh! "Manhosa", meu tempo de criança...
Eu ontem percorri sua parede...
Tem tanta água, mas morre de sede...
Você morre de sede de esperança...

Desculpe meu apelo tão simplório,
mas não sou cego, vejo-os te matando...
Quando você morrer eu vou chorando
recitar um poema em seu velório...

*Na minha infância, esse açude não era poluído. Pude beber a água da Manhosa, no início da década de 90! Senti o gosto de vida em sua água, mas hoje só consigo sentir o gosto do adeus!

Poema de Clécio Dias.
Foto: Silvano Arruda

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