Ações da empresa despencaram 50% desde o pico em meados de dezembro. Boicote de consumidores e temor de que bilionário esteja se distraindo dos negócios para cuidar da política explicam mau humor dos investidores.
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Donald Trump e Elon Musk (ANNA MONEYMAKER GETTY IMAGES NORTH AMERICAFP). |
A queda recente nas Bolsas americanas atingiu de forma mais intensa a Tesla, principal negócio do bilionário Elon Musk, homem mais rico do mundo e aliado de primeira hora do presidente dos EUA, Donald Trump. Só nesta segunda-feira, as ações da fabricante de carros elétricos caíram mais de 15%.
Em relação ao pico recente dessas ações, que foi em dezembro, no auge do otimismo com a vitória de Trump para a Casa Branca, a Tesla já perdeu metade de seu valor de mercado, num tombo de 50% nas cotações.
O ativismo político de Musk - que levou a Tesla a enfrentar boicotes em vários mercados - e a preocupação de que o bilionário esteja dedicando pouco tempo aos negócios depois que assumiu um papel informal de responsável por corte de gastos no governo Trump explicam a queda das ações.
Se após a vitória de Trump, os papéis da Tesla dispararam, desde então a empresa já viu evaporar mais de US$ 700 bilhões em valor de mercado.
Os investidores esperavam que o apoio financeiro de Musk à campanha de Trump e seus laços com a Casa Branca beneficiassem a Tesla, ajudando a eliminar obstáculos regulatórios para a tecnologia de direção autônoma da empresa.
No entanto, a onipresença de Musk em Washington provou ser um problema. Os investidores temem que ele não esteja dedicando tempo suficiente à gestão da fabricante de carros elétricos em um momento em que as vendas da empresa estão despencando.
A Tesla se tornou alvo de protestos cada vez mais intensos por parte de pessoas indignadas com o papel de Musk na eliminação de empregos de guardas florestais e outros funcionários públicos, enquanto reduz drasticamente a ajuda externa e outros programas.
Na semana passada, alguém incendiou estações de recarga da Tesla perto de Boston; tiros foram disparados contra uma concessionária da Tesla no Oregon; e manifestantes foram presos em um protesto pacífico em uma concessionária da Tesla em Nova York.
A reação política é apontada, pelo menos em parte, como responsável pelos péssimos números de vendas na Europa no mês passado, incluindo uma queda de 76% nas vendas da Tesla na Alemanha, o maior mercado automotivo do continente. Musk tem apoiado partidos de extrema-direita em países europeus, incluindo a Alemanha.
Durante uma aparição virtual em um comício do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) ainda em janeiro, Musk incentivou os alemães a se orgulharem de sua cultura e desencorajou um “foco excessivo na culpa do passado”. Os comentários geraram controvérsia pouco antes do 80º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz.
Analistas também atribuem a queda nas vendas à falta de novos modelos e ao aumento da concorrência. Em janeiro, a Volkswagen vendeu mais veículos elétricos fora da China do que a Tesla, segundo números divulgados na segunda-feira pela SNE Research, uma empresa de pesquisa e consultoria da Coreia do Sul.
A Tesla provavelmente sofrerá menos do que outras montadoras com os conflitos comerciais provocados por Trump, mas a empresa pode ser vítima do agravamento das relações com a China. A maior fábrica da Tesla fica em Xangai, onde a empresa produz carros para o mercado chinês e para exportação para a Europa e outras regiões.
Mas não é só com a Tesla que Musk vem enfrentando questionamentos sobre o quanto ele está realmente focado em seus negócios, enquanto aconselha o presidente Trump sobre a direção do governo federal. Essas dúvidas aumentaram à medida que o império empresarial do homem mais rico do mundo — que além da fabricante de carros elétricos, inclui a rede social X e a fabricante de foguetes SpaceX — enfrenta desafios.
Na segunda-feira, usuários do X relataram falhas generalizadas na plataforma, mesmo dia em que as ações da Tesla caíram mais de 15%. Na semana passada, um foguete da SpaceX explodiu durante o lançamento na Flórida, espalhando destroços em algumas áreas.
O X, que Musk comprou em 2022, sofreu instabilidades na segunda-feira, principalmente em seu aplicativo, de acordo com o Downdetector, serviço que monitora problemas relatados por usuários em sites. Usuários da rede social X relataram problemas para acessar a plataforma ao longo da manhã e tarde desta segunda-feira.
Os primeiros relatos de falhas surgiram antes das 6h da manhã no horário do leste dos EUA, seguidos de uma aparente recuperação do site e do aplicativo. O site Downdetector, que acompanha e registra falhas de sites e aplicativos, registrou mais de 20 mil notificações até às 15h30 (de Brasília).
Com relação ao X, Musk rapidamente afirmou que os problemas na rede social foram causados por um ataque cibernético vindo da Ucrânia, sem fornecer provas. Ele também publicou no X que doadores democratas estavam por trás dos protestos contra a Tesla, novamente sem apresentar evidências. Em resposta à explosão do foguete da SpaceX, ele comentou no X: "Foguetes são difíceis."
As dúvidas sobre o nível de envolvimento de Musk em suas empresas se intensificam à medida que ele passa mais tempo em Washington, liderando uma grande iniciativa de corte de custos conhecida como Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) que tem eliminado milhares de empregos e contratos públicos.
Mas até mesmo nesse papel, Musk enfrenta questionamentos, especialmente após uma tensa reunião de gabinete na semana passada, na qual Trump limitou seu poder ao papel de conselheiro dos departamentos governamentais.
Fonte: O Globo
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