O velho Baruch Spinoza
(1632-1677), com a sua providencial defesa da divindade presente também na
matéria, deu-me ensejo para dissertar um pouco sobre as realidades que nos
cercam, as físicas e as espirituais. Não se pode compreendê-las apenas por
aquilo que nossos limitados sentidos registram.
Paulo Apóstolo revela em sua
Primeira Epístola aos Coríntios, 6:19, ser o corpo humano o tabernáculo de Deus
na Terra. Jesus, contudo, vai adiante ao exaltar o Espírito – porquanto é a
sede da consciência que conduz o organismo e o mantém vivo – quando diz: “A carne para nada serve, o Espírito é que
vivifica” (Evangelho, segundo João,
6:63).
Henry Ford (1863-1947),
histórico empresário norte-americano, que estabeleceu em Michigan, EUA, uma das
mais poderosas indústrias automobilísticas do mundo, e defensor da lei da
reencarnação, afiançou: “Não faço
diferença entre matéria e espírito. São diversos graus de espessura da mesma
coisa. Matéria passa a espírito e espírito passa a matéria por um processo de
ascensão ou descensão, e tanto espírito como matéria se beneficiam com essas
passagens”.
Alziro Zarur (1914-1979), vate de
elevado gabarito, no seu Poemas da Era
Atômica, oferece-nos uma ode que singulariza o papel descomunal, ao mesmo
tempo enganoso, do Nada, por trás de que alguns alegremente se escondem, sendo
para eles mais fácil negar o que não entendem ou o que lhes fica impedido por
força da ideologia que os aprisiona. Agrilhoam-se em torre de marfim, frágil
pela substância da qual filosoficamente se constitui, isto é, para citarmos algo
compreensível aos que veem na matéria o fundamento único da existência. Ora,
isto é pura pretensão do homem que imagina o planeta como o seu limite
científico-filosófico, mesmo quando perscruta as amplitudes infinitas do
Universo e as começa a visitar. Cabe aqui o cuidado de Jesus ao lamentar que
não podia descrever toda a verdade aos entes terrestres, tudo porque não se
encontravam preparados para tal: “Quando,
porém, vier o Paráclito, que Eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da
Verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” (Evangelho,
consoante João, 15:26).
Razão pela qual, conforme acabamos de ver em Suas palavras, prometeu
mandar mais tarde o Paráclito, como o fez durante estes dois milênios, e não
somente, quando, pela primeira vez, ocorreu no Pentecostes em Jerusalém (Atos
dos Apóstolos de Jesus, 2:1 a 13). O próprio livro descritivo do Evangelista Lucas é pleno de demonstrações da ação
do Paracleto, a exemplo dos Atos, 3: de 1 a 10; 5: de 12 a 16; 7:55 e 56; 8: de
4 a 8; 10: de 9 a 16 e 44 a 48, e vai por aí.
Necessário se faz igualmente declarar que as manifestações sucessivas do
Espírito da Verdade não se têm restringido, segundo pensam alguns, ao
território da religião. Como defini em “O Novo e Abrangente Conceito do Rebanho
Único de Jesus”:
Meditando sobre o Ecumenismo Celeste da Religião de Deus, do
Cristo e do Espírito Santo, concluo que ela traz ao mundo novíssimo e
abrangente conceito do Rebanho Ecumênico de Jesus: quando o Divino Chefe
determinava aos Seus Apóstolos e Discípulos — simbolizados na figura hierática
de Pedro — apascentar Suas ovelhas, não falava somente de ovelhas humanas. A
Religião, a Ciência, a Filosofia, a Educação, a Arte, o Esporte, a Política, a
Economia, a vida doméstica, a vida pública e tudo aquilo que representa a
Cultura Universal, no Céu da Terra e na Terra*, são ovelhas do Rebanho de Jesus
a serem apascentadas por Sua Eterna Doutrina, firmada no Seu Mandamento
Novo: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos
como meus discípulos” (Evangelho,
segundo João, 13:34 e 35).
Esta é a Lei da Solidariedade Universal, portanto espiritual,
moral e social. As Leis Divinas e os seres humanos vivem completo processo de
simbiose. E, como diz o Cristo — e aqui está a chave para podermos abrir a
porta para essa grande realização: “Sem mim nada podereis fazer” (Evangelho,
consoante João, 15:5).
Passemos, então, a palavra ao poeta Zarur:
Poema do Nada
“Nada,/ eu te invejo porque não
vives,/ eu te invejo porque não amas,/ eu te invejo porque não sofres,/ porque
não lês,/ porque não vês,/ porque não ouves.
“Nada,/ quem me dera ser nada, como
tu,/ para sentir,/ no Nirvana da tua inexistência,/ a impassibilidade do
Não-ser!
“Nada,/ para mim és/ Tudo”.
O pretenso Nada (que é o Tudo) traduz a imortalidade do incontável
número de seres etéreos que habitam o Universo e não surgem aos olhos
inquiridores de um orbe ainda palco de dúvidas deprimentes. Chegou a hora de a
criatura humana resgatar a si mesma do cruel destino ao qual se vem condenando
e de livrar a consciência dos males constantes por causa da ignorância dos
assuntos espirituais. Deus não é registrado pela visão física, mas existe e age. Como na forma exposta
por Zarur no seu “Poema do Deus Divino”: “O
Deus que é a Perfeição, e que ora eu tento/ Cantar em versos de sinceridade,/
Eu nunca O vi, como em nenhum momento/ Vi eu o vento ou a eletricidade. (...)”
Na verdade, não há nada mais repleto, para a visão espiritual do ser, do
que o espaço vazio. Matéria também é espírito, já afirmei em carta ao meu filho
José Eduardo, quando, no início da década de 1990, ele estudava regência na
Bulgária.
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*No
Céu da Terra e na Terra — Por que
nesta ordem? Simplesmente porque, como digo sempre, o governo da Terra começa
no Céu. Quem quiser entender melhor leia, na íntegra, e medite sobre
o Tratado do Espiritualmente Revolucionário Novo Mandamento de Jesus.
José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista
e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com
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